domingo, 16 de janeiro de 2011

MEMÓRIA - “CARA DE PAU EM FINA ESTAMPA"

Na segunda metade dos anos 90 fui a muitos eventos e espetáculos com credencial de imprensa. Assisti a orquestras no Teatro Municipal, estréias de diversos filmes, shows de cantores como Zélia Duncan e Caetano Veloso. O detalhe em todos esses casos é que eu não era jornalista, e sequer era formado, mas o complexo de Lois Lane era latente.

No início da faculdade de comunicação conheci um menino que fazia estágio num jornal de uma associação de imprensa e lá, por 50 Reais, ele conseguiu uma carteira de membro honorário para mim. Honorário ou não, a verdade é que aquela carteira não tinha valor oficial e só a usei numa ocasião.

O show de Caetano, Fina Estampa, estava para estrear no Canecão. Procurei o telefone da casa de espetáculos, liguei para saber dos procedimentos para receber uma credencial e com isso poder ir a estréia. Me perguntaram para qual veículo eu trabalhava, então inventei que era de um jornal, o “Gazeta Carioca”. Como eles não conheciam, perguntaram onde circulava, então eu disse que era novo, que ia ser lançado ainda e consegui colocar meu nome na lista.

No dia da estréia vesti meu colete, daqueles que fotógrafos usam, peguei um gravador, um bloquinho de notas e uma câmera (só faltou um crachá com o nome de Peter Parker) e segui para o Canecão.

Do lado de fora da casa de espetáculos procurei o responsável pela lista de credenciais e fui solicitar a minha. O rapaz que cuidava da liberação da imprensa e convidados, por algum motivo, desconfiou de algo errado e pediu uma identificação minha. Foi aí que saquei aquela carteira comprada (e já vencida a uns dois anos) e mostrei, contei a história do jornal etc, mas o cara era chato mesmo. Tive que usar minha arma secreta e apontei para Paula Lavigne que tinha acabado de sair por uma porta.

Por sorte, numa outra ocasião, tirei uma foto do Caetano se apresentando. Fiz uma ampliação dessa foto e enviei para Paula como “cortesia profissional” e avisei que estaria na estréia do Fina Estampa. Quando o cara chato chamou Paula pra saber se me conhecia eu refresquei a memória dela: - Te mandei a foto do Caetano semana passada, lembra? E aí o cara chato parou de discutir e abriu, meio contrariado, o portão para mim.

Assisti todo o show e de vez em quando tirava umas fotos para não desconfiarem, sem falar que com a câmera na mão eu podia circular livremente por todo salão.

Depois da apresentação eu já ia embora quando resolvi tentar o camarim também. Na entrada tive que negociar com um segurança chato (devia ser irmão do cara lá de fora). Mais uma vez fui resgatado por Paula que fez sinal para eu entrar.

Dentro do camarim fiz várias fotos bacanas com outros artistas que circulavam ali, mas não satisfeito, queria um pouco mais e fui falar com o Caetano.

Com total falta de assunto ou de preparo para uma boa entrevista, resolvi inventar que tinha um projeto! Comecei a falar para o Caetano sobre minha idéia de criar um programa infantil, com boas músicas e blá, blá, blá. Não é que ele ficou interessado? E o pior... Começou a juntar gente em volta para saber daquela idéia (que eu estava inventando na hora).

Prometi que manteríamos contato, para conversarmos melhor sobre isso, mas o Caetano nunca me ligou.


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