quarta-feira, 31 de agosto de 2011

OPINIÃO - "CORRENDO O RISCO DE PERDER À MORTE"


A coisa mais inútil que andaram fazendo para a nossa língua, antes desta nova reforma ortográfica, foi modificar o termo “Correndo risco de vida” por “correndo risco de morte”.

Não sei como vivi tanto tempo correndo o risco errado.

Meu pai, que já é morto, é que se deu bem, pois com esse novo risco de perder a morte, pode ser que ele ressuscite.

O que tenho certeza que não ressuscitará por nada é a inteligência de quem inventou essa alteração preciosa.

No inicio a frase era “correndo o risco de perder a vida”, que numa evolução natural da língua ficou reduzida a “risco de vida”. Simples, né? O Jornal Nacional não concorda.

O que o Jornal não percebeu é que se agora as pessoas correm o risco de perder a morte, podemos ter um grave problema populacional com tanta gente saindo dos túmulos... Menos o nosso Português, que a cada dia agoniza mais depois de tantas intervenções cirúrgicas irresponsáveis.

Uma pergunta que não quer calar: Por que, já que mudaram o risco de vida, não mudaram também a palavra “obrigado”? Afinal não sou obrigado a assistir o Jornal Nacional... Ou sou?

Obrigado era, originalmente algo como: “Fico obrigado a agradecer pelo favor concedido por vossa mercê”, ou algo assim. O fato é que não falamos, normalmente, “agradeço”, mas “obrigado”.

Quem sabe o Jornal Nacional não nos corrige, né? 

MEMÓRIA - "CLUBE 869"


Na segunda metade dos anos 70 eu morava no que era a zona rural do Rio de Janeiro, no bairro de Guaratiba, na época ainda isolado (pois a Barra da Tijuca era só dunas de areia e ainda não tinha se transformado na cafona sucursal de Miami). As opções de boas escolas ficavam muito longe e as opções próximas, muito ruins, então a solução foi um meio termo e comecei a freqüentar os colégios em Campo Grande, que ficava a pouco mais de 20km do sítio onde eu vivia.

Comecei a pegar ônibus sozinho em 1980, antes mesmo de completar 10 anos, e para chegar ao ponto andava dois quilômetros a pé em estrada de terra, até encontrar o asfalto. Lá eu tinha três opções de ônibus, mas como todo morador local, esperava a linha mais barata que passava a cada 30 minutos, o “869”!

Como essa linha só passava a cada meia hora, era bom não perdê-lo ou era atraso certo. Todos os dias, as mesmas pessoas pegavam o mesmo ônibus com o mesmo motorista, o simpático Tião. Na volta da escola nos reencontrávamos e como eram sempre as mesmas pessoas, todos acabaram se conhecendo e o ônibus passou a ser umas espécie de clube sobre rodas, onde nos divertíamos um bocado.

Além do Tião ao volante, outros personagens faziam daquelas viagens diárias um verdadeiro “Magical Mystery Tour”. Tinha a Mônica, a gatinha mais linda e paquerada entre os estudantes que freqüentavam aquela linha e também a “Babá”, que era uma moça que sempre acompanhava um dos meninos, porque a mãe dele tinha medo que o seqüestrassem.

Um dia na volta da escola, já no 869, a mãe de um dos meninos levava compras para a festa de aniversário de seu filho, quando um dos passageiros sugeriu para começar a festa ali mesmo... E assim foi!

De repente o ônibus tinha bolas coloridas em todas as janelas, línguas de sogra sendo assopradas em todas as bocas, docinhos passando de mão em mão, refrigerante em copinho de papel e, claro, o bolo (com velinha e tudo). A Cada curva o rosto de alguém ficava marcado de glacê e a cada freada um banho de refrigerante quente. Atrás alguém ligou o radinho e deu a festa um fundo musical que todos acompanhavam com uma desafinação animadíssima.

A partir desse dia outras festas aconteceram no nosso clube... Bons tempos!

FICÇÃO - "A MAÇÃ E A SERPENTE"

INT/DIA - APARTAMENTO CLASSE MÉDIA.

EX-MULHER (entra gritando)– Sabia que estaria aqui... Uma vez amante, sempre amante... Né, vaca?! A culpa foi sua!

A AMANTE (calma e cínica)– Certamente sou culpada de algo, mas no seu caso não sei do que está falando.

EX-MULHER – Sua sonsa! Claro que sabe! Meu casamento acabou por sua causa!

A AMANTE – Acabou por causa de escândalos como esse... Ninguém merece! E você sabe que a muito tempo já não existe nada entre mim e seu EX-marido.

EX-MULHER – Acha que vou cair nessa?

A AMANTE – Infelizmente não tenho comprovante de “ex-amante”. De qualquer forma não sei por que acha que te devo alguma satisfação, já que eu só fiquei com ele depois que vocês se separaram...

EX-MULHER – E você acha que eu vou acreditar nesta história?

A AMANTE – Bom, eu acreditei quando ele me disse que havia se separado.

EX-MULHER – Porque é burra!

A AMANTE – Do meu ponto de vista, burra é a pessoa traída.

(Tensão entre as duas que quase partem para agressão física)

O CONVERTIDO (surpreso - saindo do banho)– Mas... Mas o que é isso? O que estão fazendo aqui? Já não fui bem claro da última vez?

A AMANTE E A EX-MULHER – NÃO!!!

O CONVERTIDO – Então vou ser agora... Não quero mais nada com vocês!!! Fim!!! Acabou!!! Beijo e tchau!!! Fui claro agora ou tenho que desenhar?

EX-MULHER – Ok, já entendi que não nos quer... Ela é fácil de entender que não queira... Mas eu... Poxa!

A AMANTE – (Para a Ex-Namorada)Cala a boca ô “espelho quebrado”, se enxerga!(Para o Convertido) Conheceu outra? Foi isso? O que aconteceu?

O CONVERTIDO –... Encontrei Jesus! Ok? Foi isso!

A AMANTE – Virou gay... Era só o que me faltava!

EX-MULHER - Jesus?! Tipo o da Madonna?

O CONVERTIDO – Não... Tipo o da Bíblia!

A AMANTE – Que pecado...

EX-MULHER – Menos pior, né? Já ouvi falar de ex-convertido, mas ex-gay, nunca!

O CONVERTIDO – Parem de falar besteiras, pelo amor de Deus! Não percebem que era a única solução para mim? Eu estava confuso, sem rumo, minha vida era aquela loucura...

A AMANTE – Podia ter resolvido isso com uma bússola e uma terapia básica.

EX-MULHER – Não liga para ela, não. Se precisar se confessar sabe onde moro.

O CONVERTIDO – Perdoe Senhor... Elas não sabem o que dizem!

A AMANTE – Ai...Não fale assim. Fico me sentindo uma pecadora.

EX-MULHER – ...E em que definição você acha que as amantes se encaixam.

A AMANTE – Se encaixam numa categoria melhor do que as “bulímicas”, que fazem cirurgia plástica usando a pensão da avó em coma.

EX-MULHER – Minha avó não está precisando do dinheiro e EU precisava do meu marido... Não tem comparação!

O CONVERTIDO – Chega! Fora daqui!

A AMANTE – Ouviu, né? Cai fora!

EX-MULHER – Caí fora você que é “a outra”, eu sou a mulher dele!

A AMANTE – EX-mulher!E além do mais...

O CONVERTIDO – FORA, AS DUAS!!

A AMANTE – Só saio depois que ela sair! Tenho meus direitos!

EX-MULHER – É a primeira vez que vejo EX-amante exigir direitos e até onde sei o único direito que você tem é o de ser condenada num processo de adultério.

A AMANTE – Ao menos não fui a traída... Fui a escolhida!

O CONVERTIDO – Só tem um jeito de resolver isso...

EX-MULHER (para o convertido)– Está ligando para quem?

A AMANTE (para o convertido)-... Pra polícia?

O CONVERTIDO – Para um exorcista... Só ele resolve caso de possessão.

A AMANTE –... E só uma internação no hospital psiquiátrico resolve caso de loucura!

O CONVERTIDO – Suas ironias não me atingem, estou protegido pela “Luz”!

EX-MULHER – Desta vez tenho de concordar com ela... Você não está “batendo bem”!

O CONVERTIDO – Vocês estão cegas pela escuridão!

A AMANTE – Querido... O que cega é a luz e não a escuridão... né?

O CONVERTIDO – Você diz isso porque não enxerga a verdade... Pecadora!

A AMANTE - Ei!! Não pequei sozinha... Tive sua ajuda, lembra?

EX-MULHER – É... (Para O CONVERTIDO) Parece que quem precisa de óculos para enxergar a verdade é você... E daqueles em 3D para além de enxergar melhor, também poder ver as coisas com mais, digamos, profundidade!

O CONVERTIDO – Bem que Deus me falou que eu teria que passar por uma difícil provação antes de me mudar para o Paraíso.

A AMANTE – Por acaso Deus era um arbusto pegando fogo?

O CONVERTIDO – Como sabe?!

EX-MULHER –... Com este tempo quente e seco, é fácil deduzir.

A AMANTE – Olha só... Vou tentar explicar de forma simples... Existe uma diferença entre você falar com Deus e Deus falar contigo. A primeira opção é uma forma de você dizer coisas que você mesmo precisa ouvir e substitui a terapia por ser mais barato. Na segunda opção você está tendo um surto esquizofrênico.

O CONVERTIDO – Isso é mais ou menos como quando vocês olhavam para mim e só viam meu cartão de crédito e minha conta bancária?

A AMANTE – Ahh... Você não quer comparar sua conta bancária com um arbusto pegando fogo, né?

EX-MULHER – Se faz questão do arbusto carbonizado, ele é todo seu... Mas se deixar de pagar minha pensão vai ver o que é o inferno!

O CONVERTIDO – Vocês só pensam em dinheiro.

A AMANTE – Não... Mas tudo em que pensamos só se compra com dinheiro.

EX-MULHER – Inclusive uma casa no condomínio “Paraíso”. Acha que vai escapar da pensão se passar por “santinho do pau oco”? Também quero ir para o Paraíso... E vou por direito adquirido!

A AMANTE – Bom, eu não tenho direito a pensão... Mas seu filho vai ter... Eu vim aqui para dizer que estou grávida!

O CONVERTIDO –... E imagino que, agora, também queira seu lugar no Paraíso.

A AMANTE – O nome do condomínio não importa.

EX-MULHER – Devo admitir que esta última revelação me surpreendeu... Mas parabéns pela gravidez. Tentei de todo jeito, mas só me restou o divórcio.

A AMANTE – Obrigada! Tentei o casamento, mas só me restou engravidar!

O CONVERTIDO – Vocês deviam formar uma dupla sertaneja... “A Maçã e a Serpente”.

EX-AMANTE – Até que não é uma má idéia... Depois disso tudo já estou gostando de você (para a Amante).

A AMANTE – Obrigada... Também achei você muito interessante... O que acha de continuarmos este papo num lugar mais tranqüilo?

EX-MULHER – Gosta de vinho?

A AMANTE – Só se for à luz de velas!

EX-MULHER – Na minha casa ou na sua?

FIM