HISTÓRIAS EM QUADRINHOS

QUADRINHOS COM A ASSINATURA DE VICTOR KLIER

Breve espaço para a divulgação de projetos prontos, estudos, rascunhos, trabalhos pessoais ou para terceiros etc. Aqui pode-se encontrar algumas HQ's, BD's, Comics, Fumettis, que independente do nome, tem a marca e a qualidade dos produtos saídos da mente criativa e original do autor.


O INÍCIO

Na verdade antes do início houve um pré-início, mas creio que não vem ao caso abordar o assunto neste contexto, então vamos direto para 1987, ano em que eu me arrisquei a me aproximar do mundo profissional das HQ's, pela primeira vez. Eu ainda estava no colégio e acabava de deixar meus primeiros dezesseis anos para trás (embora as vezes eu tenha sensação de ter deixado "para frente").

Eu morava no bairro do Jardim Botânico, na zona sul do Rio de Janeiro, e estudava no colégio Andrews aonde eu tive meu primeiro contato com o genial Ziraldo, quando ele foi convidado para dar uma palestra para os alunos da oitava série ginasial. Ali foi o momento em que eu tive certeza de que me tornaria um artista. 

Poucas semanas depois eu já conseguia um convite para visitar sua casa/estúdio, onde ganhei várias dicas, um livro autografado e um convite para voltar ao estúdio assim que terminasse a escola para, quem sabe, trabalhar com ele. 

Neste mesmo ano escrevi para os estúdios do criador da Turma da Mônica, o Maurício de Souza, mandando junto com a cartinha mandei também uma história em quadrinho (bem fraquinha, eu confesso) com a Mônica e seus amigos, só para dar um exemplo do talento que eu ainda não tinha.

Tempos depois recebi uma carta-resposta-padrão com a assinatura da diretora de arte, e não do Maurício como eu esperava. Mas ok, eu ainda tinha muito tempo pela frente. No futuro eu sabia que voltaria a procurar os dois celebres cartunistas!



... E O FUTURO CHEGOU!


Em 1990 me juntei a equipe de colaboradores do Estúdio Zappin (https://blogdovictorklier.blogspot.com/2011/09/ - texto "Volto Quando Conseguir Trabalho") , e comecei a desenvolver roteiros de quadrinhos para revistas do Menino Maluquinho, Pererê e revistas de passatempos daquelas personagens, que eram publicadas pela Editora Abril.


Além das publicações dos gibis, também tive meus roteiros confeccionados na forma de tirinhas e publicadas nas páginas do histórico Jornal do Brasil.

As tirinhas de jornal são minhas preferidas daquela época, pois podiam ser mais engajadas, no melhor estilo Mafalda (de Quino) ou ousadas, como na série onde debato a descoberta da sexualidade pelo ponto de vista das crianças.




Em 1998 a produção de gibis, em parceria com a Abril já não existia, então aproveitei para me dedicar a área do audiovisual e da produção cultural, mas sempre atento e em contato com o Ziraldo e sua equipe. 

Finalmente em 2004 sou convocado como editor de roteiros da equipe fixa, mas também continuando minha colaboração como roteirista do Menino Maluquinho, Julieta, Junim, Pererê etc., no novo estúdio, montado no antigo endereço residencial de Ziraldo, na Lagoa. 

A parceria agora era com a Editora Globo, onde também acabei como roteirista dos títulos ligados as revistas em quadrinhos do universo de Monteiro Lobato, como a revista do Sítio do Pica Pau Amarelo, Cuca, Você Sabia?, Etc.



Além de assinar como roteirista no trabalho, com a chancela de nomes como dos geniais Ziraldo e Monteiro Lobato, também desenvolvi meus próprios projetos.

Ainda nos anos 1990 criei em parceria com meu talentoso amigo, Marco Bravo, as tirinhas "Tocaia", que contava a história de dois amigos desenhistas que ao invés de focar no trabalho, passavam a noite olhando as vizinhas pela janela, sendo que um tinha um sentimento, digamos, mais filosófico sobre as noites de observação de janelas, enquanto o outro só pensava em se dar bem com as vizinhas que entravam na mira da janela indiscreta.

As tirinhas foram publicadas em preto e branco numa revista independente do Rio de Janeiro, a "Zum Zum Zum".



A curiosidade fica por conta de ser inspirado em fatos reais e pela assinatura de "Wood", que é o pseudônimo para Victor Klier e Marco Bravo. Como a sugestão do nome veio do Bravo, não posso afirmar de onde veio a inspiração, mas deduzo que tenha relação com o festival de Woodstock. 

Ainda naquela década criei as tirinhas "Baixo Gávea", que foi uma tentativa de recriar o espírito carioca daquele lugar, inspirado pelos quadrinhos paulistano como os do Angeli, mas me faltou uma maior intimidade com aquela cultura e assim aposentei a minha versão carioca de "Chiclete com Banana". 
Também me arrisquei no jornal da minha faculdade com tirinhas que contavam a rotina de um calouro e sua relação com os veteranos. O problema aqui é que eu tinha a intenção de receber algum dinheiro pelas tirinhas publicadas, mas como isso não aconteceu, desanimei. Surgiram algumas oportunidades e publiquei tirinhas num jornal interno da CIPA/Glaxo Wellcome, "Risco Zero", e cartuns na revista Asbrac e Crítica Judiciária. Se por um lado não foram grandes trabalhos, ao menos ganhei experiência e algum trocado.   

Mas em 2006, trabalhando com a equipe do Ziraldo, que logo se tornaria independente e abriria o estúdio Megatério, criei dois projetos dos quais posso me dizer que são geniais (cansei da modéstia, e os projetos são bons mesmo, então...). E são eles: "Turma da Febeca" e "Dadá".




TURMA DA FEBECA

Naquele ano eu estava muito incomodado com a falta de algo diferente no universo dos quadrinhos, que tivesse mais personalidade, e que não seguissem as fórmulas já cansadas ou padrões da moda, como Marvel/DC e Mangás. Comecei a pensar então em algo que eu nunca tivesse visto e que eu pudesse fazer. A primeira ideia foi trabalhar num projeto infanto-juvenil, que apesar de seguir aquele modelo de turma (como Turma da Mônica, Turma do Menino Maluquinho, Turma da Luluzinha etc) seria uma turma diferente de todas que conhecemos.

Fiz algumas pesquisas e comecei a desenvolver várias personagens, onde as meninas seriam o destaque, mas estão sempre acompanhadas pelos meninos em suas “aventuras”. Bom, até aí nada de diferente, né? A diferença está no fato de que todos os personagens principais seriam deficientes ou teriam alguma patologia. Nascia assim “A Turma da Febeca”, uma espécie mistura de turma da Luluzinha com X-Man (só que ao invés de superpoderes mutantes, suas diferenças seriam por causa das deficiências), e que mostraria com humor toda coragem, personalidade e habilidades dessa turminha superpoderosa! Outra característica fundamental é o fato de evitar, sempre, focar o tema das histórias nas deficiências das personagens, afinal na vida real as pessoas não vivem somente em função de suas deficiências... Elas namoram, saem para se divertir, estudam etc. 



Ahh, e vale a curiosidade de que a gênese da Febeca foi a personagem Fernanda, também cadeirante, que criei para as histórias do Maluquinho, a partir de uma pesquisa sobre a vida de jovens deficientes. Infelizmente só duas histórias foram publicadas com a personagem, pois logo depois a editora encerrou todos os títulos daquele formato (gibi), e para não deixar o conceito morrer, desenvolvi meu próprio projeto, então vamos voltar a ele...


... Com a Febeca logo percebi o risco de a turminha que criei virasse uma especie de "gueto", onde só haveria adolescentes com deficiência, o que poderia ser interpretado como um grupo segregado de outros grupos, justamente o o contrário do que eu desejava, então reformulei o conceito. 

Algum tempo depois, comecei a incluir na Turma da Febeca  personagens de características polêmicas para os padrões atuais, mas que não podem ser ignorados. O direito a igualdade é de todos, então encontraremos na Turma da Febeca personagens homossexuais, ateus, religiosos, orfãos etc. Assim, como no mundo real, teremos contato com a diversidade, refletiremos e discutiremos sobre os mais diversos assuntos, todos de relevância para uma sociedade mais justa. 

Abaixo algumas das tiras publicadas num encarte do jornal carioca "O Globo".




A GENIAL DADÁ

Assim como a Febeca, a Eduarda, ou Dadá para os íntimos, foi criada no ano de 2006. A inspiração para seu nome/apelido foi o dadaísmo e para o conceito em si, foi a necessidade que senti de criar uma personagem que estimulasse a curiosidade do leitor sobre filosofia, psicologia, arte e cultura, de uma forma geral.



Talvez alguns se perguntem se não pensei em batiza-la de Sofia (ou Sophia) por causa do conceito filosófico no universo da personagem... bom, obviamente me passou pela cabeça usar, sim, aquele nome, ainda mais que uma das pessoas que me inspirou na criação da personagem se chama justamente assim. Mas pesou o fato de já existir personagens com aquele nome por causa da relação com a filosofia, como no livro "O Mundo de Sophia", então... 



Mas continuando... Senti que só a ligação com temas filosóficos, culturais, históricos etc., não seria o suficiente para que o projeto desse certo, então, um dia, enquanto pensava em problemas do trabalho, comecei a rabiscar alguns desenhos num papel e aí veio a solução que eu procurava. Um conceito gráfico diferente! Dadá ganhou “cara de janela”, por causa das janelas da alma, que ela mantém sempre aberta a novidades e a questionamentos. Seu pai tem “cara de porta”, por causa das portas da percepção, meio fechada, porque ele já tem dificuldades de se abrir para o mundo como acontece com sua filha. Por fim a mãe, que tem “cara de gaveta”, por causa das gavetas de Salvador Dali, que representam a memória.



Não fiz o projeto pensando em um público específico, pois o modelo americano de público não é o modelo para a Dadá. O público dela é curioso, não fica satisfeito com respostas fáceis e gosta de ser desafiado.

Muitos olham o projeta Dadá e logo dizem:"- Crianças não vão entender!"
Então respondo:"- Não entenderam? Então perguntem pra alguém, ou vão pesquisar!"
A ideia é estimular!




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