domingo, 30 de janeiro de 2011

OPINIÃO - “A CULPA É DO DICIONÁRIO"


Achei tão curioso que guardei nos meus arquivos uma matéria, de muitos anos atrás, discutindo sobre a retirada da palavra “mulato” do dicionário, por ser considerada preconceituosa e de sentido pejorativo. Outra palavra ameaçada de ser banida é “retardado”, essa a pedido de comissões pelos direitos das pessoas com deficiência (porque portador também não pode ser dito).

Também acho curioso essa coisa de “afro-brasileiro”, “afro-americano”...O que é exatamente? Minha mente limitada acha bizarro alguém que, por exemplo, comece a nascer na África e termine de nascer no Brasil. Como fazem isso? Vindo de jato? Pra mim a pessoa ou é africana, ou é brasileira, não dá pra ser as duas coisas... Ou dá??? Pra mim, a pessoa é, independente da cor da pele, um ser humano... Não é o suficiente isso? Pra que complicar?

Ok, vejamos, eu tenho origens na Alemanha, Portugal e até na África, então eu sou o que... Afro-luso-germânico-brasileiro ou Luso-germânico-afro-brasileiro, ou ainda germânico-afro-luso-brasileiro??? Tem ordem certa? É por ordem alfabética ou por ordem cronológica? Ahh... Quer saber? Ridículo isso! Sou brasileiro e pronto!

Mas voltando a essa coisa do dicionário... Outro dia fui tomado, de súbito, por uma dúvida de português e corri pro dicionário. Lá procurei pela palavra “comunidade”, e pra minha surpresa, não era sinônimo de favela, embora pareça que as pessoas resolveram que dizendo “comunidade” estarão mudando algo na vida daquelas pessoas... Será que é trocando ou eliminando as palavras que se resolve um problema? Problema não é a palavra, é a falta de atitude das pessoas, de consciência moral, cívica e por aí vai.

É, realmente, acho que essa coisa de tirar palavras que nos incomodam, ali do dicionário é uma solução de gênio! Adorei! Fiz até uma lista, vejam só algumas... Vamos tirar do dicionário a palavra ladrão, assassino, doença, corrupto (essa eu queria ver mesmo), miséria, imbecil, estupidez, fome, hipocrisia... Nossa! Se eu continuar meu dicionário ficará reduzido a umas dez ou doze páginas! Mas vai valer a pena! Vamos lá pessoal, todos arrancando páginas de seus dicionários! Vamos salvar o mundo!

Acabei de tirar a palavra pobreza do meu... Mas ué! Não fiquei rico!!! O que aconteceu? Será que é porque sou classe média? Deixa eu tentar aqui... Já, já volto pra contar se deu certo! Me esperem, ok?


MEMÓRIA - “A PORTA LATERAL E AS ESCULTURAS DE RODIN”


Desde o filme “E.T. O Extraterrestre”, não via filas dobrando quarteirão e também nunca tinha visto exposições de arte entrarem na moda, portanto eu nunca havia pegado filas para entrar em museus de arte, mas na exposição do mestre Rodin, isso quase mudou.

Sim, eu disse quase e explico:
Essa exposição aconteceu em meados dos anos 90 e eu já estava na faculdade de jornalismo. As vezes matava aula para fazer algo mais relevante e educativo do que assistir passivamente as aulas, em sua maioria totalmente inúteis e desestimulantes... Mas isso é outra história, voltemos ao que interessa!

Cheguei cedo ao Museu de Belas Artes e levei um susto, pois nem tinha aberto suas portas e uma fila monstruosa contornava o edifício centenário. Fiquei parado, olhando e pensando se deveria desistir de visitar aquela exposição e voltar pra aula... É, resolvi ficar e ver a exposição! Mas resolvi também que não pegaria aquela fila por nada! Deus me livre!

Rezar não adiantou muito, então mudei de estratégia e resolvi contornar todo o prédio. É um prédio grande e antigo, eu sabia que certamente haveriam outras entradas. Dito e feito! Passando por uma de suas laterais encontrei uma outra porta, pequena e discreta, longe de lembrar aquela principal, onde pessoas se amontoavam.

A porta lateral levava a uma exposição paralela e de menor repercussão e por isso, sem filas. Não pensei duas vezes... Entrei ali mesmo! Desci alguns degraus e segui observando as obras colocadas naquela sala alternativa. Enquanto olhava procurei por alguma passagem que levasse ao andar superior e me poupasse da enorme fila da “moda da vez”.

Não foi difícil, logo encontrei. Olhei discretamente para o balcão da entrada onde ficavam a recepcionista e o segurança, que pareciam mais preocupados em flertar um com o outro. Aproveitei que estavam ocupados, então passei rapidamente pela passagem que ficava entre as obras (com entrada proibida a visitantes, como eu) e subi pela escada no fim de um estreito corredor.

Subi uns dois ou três lances de escada até chegar numa sala vazia, com uns tapumes de obra. Segui pelo único lugar possível, indo até uma porta entreaberta e quando passei por ela uma surpresa: Operários!

Vários operários faziam algum tipo de restauração naquela ala do museu e colocavam minha “missão secreta” em risco. Pensei rápido e dissimulei uma “fiscalização”, olhando tudo de cima a baixo a cada segmento do andaime, verificando a nova pintura e de vez em quando encarando um ou outro nos olhos para que não desconfiassem.

Na verdade não acredito que aquilo tenha funcionado, mas sei que também não deram a mínima e finalmente cheguei à sala da “exposição da moda” junto com o primeiro grupo de visitantes.

De resto foi só curtir as belas esculturas!



 

FICÇÃO - "QUEIMANDO O SUTIÃ"

- Chega! Não abre essa boca! Não quero ouvir sua voz! É sempre assim! Acha que sou sua empregada? Claro que acha, né? Afinal eu lavo sua roupa, faço sua comida e você... E você aí, na gandaia pela noite adentro, e muito provavelmente com alguma sirigaita a tiracolo. ... Sai a hora que quer, volta a hora que bem entende, e a empregadinha aqui, nem pra receber salário mínimo. Vem cá, deixa eu ver... Aposto que tá com cheiro de perfume barato... Ei! Esse cheiro é o do meu perfume... E, e essa mancha vermelha aí, perto do colarinho? Não vai vir com aquela história de catchup de novo, né? Tá, eu sei que da outra vez foi mesmo... Mas EU tinha feito o sanduíche! E hoje, qual a desculpa? Vai me dizer que teve reunião com os amigos do escritório, que só falaram de negócios... Ah, mas nessa não caio mais! Invente outra! Aliás, cansei de ouvir você ficar aí falando, com suas histórias pra boi dormir, enquanto a vaca aqui fica trabalhando feito um cavalo, pra depois ser tratada feito um cachorro. A partir de agora quem fala sou eu e você vai ter que me ouvir! Óóó... Fecha a boca... Quietinho aí! Você sabe que costumo a falar pouco, mas hoje vou quebrar este hábito... E que negócio é esse que está escondendo aí atrás de você? São flores?! Não acredito... Quem é a vadi... Eu?! São pra mim?? Olha... Não me enrola... Deixa eu ver o cartãozinho! Ué... São pra mim mesmo... Que lindas amor! Só você mesmo, viu? Vai... Vai tomar um banho e colocar aquela blusa que gosta... Acabei de levar pro quarto. Tá limpinha, passadinha e cheirosinha! Ah... E sabe o que fiz pro seu jantar?


domingo, 16 de janeiro de 2011

OPINIÃO - “A COR ROSA MACHO"


Outro dia estava exercendo meu velho hábito de visitar bancas de jornal e revistas, quando chega um menino de uns 4 anos, por aí... E devidamente acompanhado de sua irmã mais velha (uns 11 ou 12 anos) e até aí eu estava entretido olhando as capas que mais me atraíam. Depois de um tempo, a irmã, já impaciente, perguntou pro pirralho: “- Já escolheu?” e o menino disse cheio de certeza “- já!”, então pegou a revista e mostrou a ela. Era uma revista bem colorida e predominando o rosa e por isso veio a resposta rápida da irmã cheia de sabedoria, “- Não! Essa é de menina!”, disse categórica.

Fiquei com pena do pobre pirralho, que do alto de seus longos anos de vida ainda não sabia que o rosa havia sido criado pela natureza para ser uma cor exclusiva das mulheres. Ele que só tinha achado aquele objeto atraente, de cores fortes, brilhantes e por isso tão sedutor, mesmo que de rosa predominante e exclusivamente feminino, mal sabia que havia cometido um erro fatal... Gostar de rosa!

Coitado, provavelmente acabara de cometer seu primeiro pecado mortal e aprender a dura lição de que a sociedade determina o que é certo ou errado e até se temos ou não a opção a uma escolha específica, enfim... Pobre pirralho.

Eu gosto muito de todas as cores (incluindo o rosa) e tenho preferência por uma ou outra dependendo do meu estado de humor, mas se me perguntar qual é minha cor preferida, não saberei como responder.

Mas já que estamos falando do rosa devo citar dois de meus personagens preferidos que são a Pantera Cor-de-Rosa (que o nome já denuncia sua cor) e o Barbapapa, ambos os personagens são masculinos e de cor rosa. Tem ainda o Leão da Montanha e outros rosados que não abrem mão de sua masculinidade.

Infelizmente muitas pessoas, incluindo a tal irmã, ainda desconhecem tais fatos... Pobre pirralho!

Se essa discriminação aos machos pró-rosa continuar, teremos que reivindicar um sistema de cotas... Aí vão dizer que isso é coisa de veado!


MEMÓRIA - “CARA DE PAU EM FINA ESTAMPA"

Na segunda metade dos anos 90 fui a muitos eventos e espetáculos com credencial de imprensa. Assisti a orquestras no Teatro Municipal, estréias de diversos filmes, shows de cantores como Zélia Duncan e Caetano Veloso. O detalhe em todos esses casos é que eu não era jornalista, e sequer era formado, mas o complexo de Lois Lane era latente.

No início da faculdade de comunicação conheci um menino que fazia estágio num jornal de uma associação de imprensa e lá, por 50 Reais, ele conseguiu uma carteira de membro honorário para mim. Honorário ou não, a verdade é que aquela carteira não tinha valor oficial e só a usei numa ocasião.

O show de Caetano, Fina Estampa, estava para estrear no Canecão. Procurei o telefone da casa de espetáculos, liguei para saber dos procedimentos para receber uma credencial e com isso poder ir a estréia. Me perguntaram para qual veículo eu trabalhava, então inventei que era de um jornal, o “Gazeta Carioca”. Como eles não conheciam, perguntaram onde circulava, então eu disse que era novo, que ia ser lançado ainda e consegui colocar meu nome na lista.

No dia da estréia vesti meu colete, daqueles que fotógrafos usam, peguei um gravador, um bloquinho de notas e uma câmera (só faltou um crachá com o nome de Peter Parker) e segui para o Canecão.

Do lado de fora da casa de espetáculos procurei o responsável pela lista de credenciais e fui solicitar a minha. O rapaz que cuidava da liberação da imprensa e convidados, por algum motivo, desconfiou de algo errado e pediu uma identificação minha. Foi aí que saquei aquela carteira comprada (e já vencida a uns dois anos) e mostrei, contei a história do jornal etc, mas o cara era chato mesmo. Tive que usar minha arma secreta e apontei para Paula Lavigne que tinha acabado de sair por uma porta.

Por sorte, numa outra ocasião, tirei uma foto do Caetano se apresentando. Fiz uma ampliação dessa foto e enviei para Paula como “cortesia profissional” e avisei que estaria na estréia do Fina Estampa. Quando o cara chato chamou Paula pra saber se me conhecia eu refresquei a memória dela: - Te mandei a foto do Caetano semana passada, lembra? E aí o cara chato parou de discutir e abriu, meio contrariado, o portão para mim.

Assisti todo o show e de vez em quando tirava umas fotos para não desconfiarem, sem falar que com a câmera na mão eu podia circular livremente por todo salão.

Depois da apresentação eu já ia embora quando resolvi tentar o camarim também. Na entrada tive que negociar com um segurança chato (devia ser irmão do cara lá de fora). Mais uma vez fui resgatado por Paula que fez sinal para eu entrar.

Dentro do camarim fiz várias fotos bacanas com outros artistas que circulavam ali, mas não satisfeito, queria um pouco mais e fui falar com o Caetano.

Com total falta de assunto ou de preparo para uma boa entrevista, resolvi inventar que tinha um projeto! Comecei a falar para o Caetano sobre minha idéia de criar um programa infantil, com boas músicas e blá, blá, blá. Não é que ele ficou interessado? E o pior... Começou a juntar gente em volta para saber daquela idéia (que eu estava inventando na hora).

Prometi que manteríamos contato, para conversarmos melhor sobre isso, mas o Caetano nunca me ligou.


FICÇÃO - " ESTOU SAINDO "

- Desculpe, mas é como eu já disse, não dá mais pra ficar aqui! Eu amo você, mas não dá mais. Preciso de espaço pra mim! Chega de calcinhas penduradas no box, de brigas por quem ouve que música e em que altura, chega dessa novela diária!

É, tá certo que você faz uma comida deliciosa, mas sobrevivo a isso... E sempre podemos combinar de almoçar juntos... Ou mesmo jantar... Mas só isso! Pra cá, não volto! É definitivo! E além do mais, já aluguei apartamento com a Marcinha, não tem mais volta... E não faz essa cara... Sei que nunca gostou dela, mas ela é uma boa moça... Apesar de manter a velha tradição de calcinhas no box e da comida dela não ser, exatamente... das melhores. Mas isso não importa, porque ela sabe pedir comidas prontas como ninguém...

Tá, não é a mesma coisa, mas... Ué, por que estou me justificando? Desculpe, sou maior de idade,vacinado, não devo explicações. Certo? Então não adianta ficar sentindo esse ciúmes bobo. Sabíamos que esse dia chegaria... Ou talvez não, mas não importa mais. Né? Agora que chegou, não podemos fazer nada... É... Nada, é muito radical... Mas o que sobra para ser feito é pouco, então vamos evitar novela mexicana, ou acabo chorando também... Não faz isso comigo... Não faz essa cara...

Ok! Mais um abraço e um beijo... Por você! Tenho que seguir meu rumo, trilhar meu caminho sozinho... Cresci! Sabe que te amo, né MÃE? Mas agora, tenho que ir... Já me alimentei, estou levando o casaco e prometo que ligo. Adeus!


sábado, 1 de janeiro de 2011

ANTI COMPUTADOR SENTIMENTAL


Quando eu tinha uns 8 anos resolvi que queria fazer histórias em quadrinhos e até fiz algumas na época. Além das histórias em quadrinhos e da escola eu também fazia coisas de vital importância para me tornar o que sou hoje... Uma delas era caçar saci! Mas rapidamente percebi que não tinha talento e nunca consegui pegar o danado que sempre escapava em seu redemoinho de vento.

O tempo passou, tive que deixar o sítio onde cresci e me mudei para a cidade grande. Tive a partir daí, contato com um mundo completamente diferente e fui obrigado a me adaptar a boemia urbana... É, isso até que não foi tão difícil, considerando que eu nunca bebi, fumei ou usei drogas e mesmo assim sempre viajei bastante.

Bom, mas isso tudo não vem ao caso. O fato é que eu cresci vendo o surgimento e a popularização dos computadores de uso pessoal. Pra alguém que, quando criança, caçava saci e que um dos presentes mais marcantes foi uma máquina de escrever, é muito estranho assimilar com facilidade o conceito de Internet e toda esta tecnologia de ficção científica. Sou uma espécie de Dr. Spock burro e sentimental e quem conhece o Dr. Spock sabe que isso seria uma contradição.

Sou sentimental porque amava a minha velha máquina de escrever e burro porque, se mal sabia usar aquela máquina, imaginem então como me saio hoje. Ganhei meu primeiro computador pessoal em 1998 e, até o presente momento, tenho o impulso de pegar o vidrinho de corretor pra apagar algo que escrevi errado, no monitor(!).

Isso me lembra uma história que o cartunista Ziraldo me contou sobre ele. Quando foi a uma editora onde publicaria um de seus livros e lá disseram que teriam que corrigir um desenho, Ziraldo pediu um guache branco, que era o que costumava usar (ele ainda usa) para retocar algo direto nos seus originais. Daí o moço lá da editora perguntou surpreso: “-Guache branco?!”. Então o célebre cartunista explicou que era pra fazer o retoque sugerido e o moço lá não teve dúvidas: “-Deleta!”. Ziraldo não sabia nada sobre isso e, como eu, preferia pintar o monitor com corretivo mesmo.

Sou, como ele (e a letra da música), um “anti computador sentimental”.

Pra finalizar, antes que questionem minha inaptidão ao universo da informática, devo adiantar que quem instala programas no meu PC, combate vírus virtuais e cria meus Orkut’s, MSN’s, Blog’s e afins... É o Dr Spock!!!

Eu só escrevo mesmo!

... Vida longa e próspera!



MULHERES DE PAPEL

A primeira revista Playboy da minha vida ganhei de meus pais quando tinha uns 11 anos e porque pedi uma pra ver. Pouca coisa me lembro... Lembro que não entendi porque falavam tanto daquela revista, que era com a Sandra Bréa na capa e que não me deixou nenhum “trauma”.

Aos 12 adquiri outra revista de mulheres peladas, porque era a Vera Fischer e foi o acontecimento daquele ano. Lembro que ao contrário da última, achei as fotos bonitas... E só! Papel ainda não era uma coisa que me excitava, a menos que fosse pra desenhar algo.

Meu interesse por mulheres de papel surgiu mesmo aos 16, quando o filho de um amigo de minha mãe se casou e teve que despejar todas as mulheres de sua casa, que não fossem sua noiva, obviamente. As pobres sem teto tiveram minha solidariedade e puderam ficar lá em casa. Como elas eram comportadas e silenciosas, minha mãe não se opôs. Arrumei um lugar confortável pra elas no meu quarto, onde logo ficamos mais íntimos. Foi uma revolução!

Outra revolução foi aos 19, quando arrumei uma namorada, a minha primeira, oficialmente falando. Nossa! Muito melhor que papel de revista! Mas por via das dúvidas deixei as meninas quietas no canto delas, ali, sempre a mão para o caso de uma emergência. A verdade é que com uma namorada do lado as meninas ganharam uma bela camada de poeira e assim ficaram por muito tempo.

Anos depois, aos 25, quando eu já estava na universidade, onde fiz faculdade de jornalismo, usei as revistas novamente, não pelas meninas, já meio amarrotadas e com manchas do tempo, mas para pesquisas de diversos tipos, sobre tudo com personalidades que davam entrevistas fantásticas! Eram páginas e mais páginas de entrevistas com todo tipo de gente e revelações incríveis, todas muito úteis, de forma diferente das meninas, mas úteis também.

A minha conclusão disso tudo, hoje, é a seguinte: Deixem de hipocrisia! Tirem aquela frase de “Proibido para menores de 18 anos”! Deixem os meninos em paz! Não é uma frase na capa que vai impedir o acesso às descobertas da puberdade! Acredito que uma cara com mais de 18 anos, não precisa de revista pra se satisfazer sexualmente, porque um cara de 18 anos tem uma namorada, que como já disse, é muito melhor!

A função da Playboy depois dos 18 é outra. É consumismo, são as entrevistas e talvez até um olhar curioso sobre a nudez de algumas “celebridades” com talento pra ser modelo de revista masculina. Então minha conclusão é que a “utilidade” inicial da revista, seu apelo real, nada tem haver com homens de verdade, mas com descobertas de meninos.



CATORZE POLEGADAS

Era uma noite escura e tempestuosa, com nuvens baixas e aparência de inverno europeu. No entanto, o que imperava era um calor insuportável que combinado à angustiante solidão de uma metrópole adormecida, chegava ao limiar da insanidade, onde os mais fracos são capazes de abrir mão de sua própria vida, buscando uma inexorável paz interior.
Mas isto tudo é bobagem, meu problema não era o silêncio da cidade, mas o do telefone que insistia em provocar minha ansiedade. Afinal, eu estava bastante fragilizado em decorrência do fim de um longo e profundo relacionamento com a minha televisão de catorze polegadas. Ela (a TV) insistia em tentar me catequizar ou empurrar para alguma empreitada de termos bastantes questionáveis. Era arrogante e egocêntrica, mais uma prova de que a paixão é cega e emburrecedora. Contudo, suportei bem a separação e procurei consolo ao lado do telefone, mas estavam ocupados (as pessoas, não os telefones) nas companhias de seus aparelhos de televisão.

“ – Não esquenta, esquece, é só uma fase... mas olha só, é que acabou o comercial, posso te ligar depois ? ”

Madrugada a dentro, ainda sem solução para o vazio embutido em mim, procurei pela geladeira que me tratou com frieza e distanciamento. Um copo d’água era tudo que podia me oferecer. Sempre soube que ela era vazia, mas nestas horas, como se sabe, tentamos nos agarrar a qualquer coisa atrás de conforto.
O relógio na parede, austero, me fitava e apontava a hora. Sem dizer uma palavra me fez entender que eu já não podia mais perder o precioso e irrecuperável tempo que passava sem piedade. “ – É hora de atitude. ”, pensei.

Peguei a chave, abri a porta do quarto e segui no corredor em direção à sala. Peguei uma garrafa de vinho, uns petiscos, desliguei as luzes, o que tornava o clima bastante apropriado, sentei-me no sofá, peguei o controle remoto e liguei minha catorze polegadas.