ELA CHEGA E ENCONTRA ELE ANDANDO DE UM LADO PARA O OUTRO COM UM MONTE DE PAPÉIS NA MÃO, E UM OUTRO TANTO AMASSADO NO CHÃO
ELA – Oi! Vim assim que soube do concurso de esquetes! Temos que inscrever algo!
ELE – Calma! Já estou trabalhando nisso!
ELA – Então seja rápido, porque as inscrições acabam amanhã!
ELE – Eu sei, eu sei... Não faz pressão senão não consigo!
ELA – Calma! Vim pra te ajudar!
ELE – Obrigado! Começou bem...
ELA – Deixa eu ver o que já escreveu (PEGA AS FOLHAS DE PAPEL QUE ESTÃO COM ELE)?
ELE – Mas...
ELA – Mas isso tá em branco! Não disse que já estava trabalhando?
ELE – Sim, mas não disse que já tinha escrito algo.
ELA – E esse monte de papel amassado a sua volta? Nada que se aproveite?
ELE – É só papel amassado... Pra dar um clima, sabe?
ELA – O que dá clima não é amassar o papel, mas escrever nele... Me dá essa caneta aqui!
ELE – Toda sua.
ELA – Vamos lá... Vejamos... Hummmm... Ah! Já sei!
ELE – O que, o que???
ELA – Era uma vez...
ELE – Ahh... Não! Para, para!
ELA – O que, o que???
ELE – Isso é pra ser uma esquete, não um conto de fadas! Não dá para começar assim!
ELA – Qual é? Você não escreveu nem uma linha e já tá criticando o que escrevi?
ELE – Não foi uma critica, foi só uma observação... Desculpe, vai... Continua. Qual era sua idéia?
ELA – Não , você tem razão, não era mesmo uma boa idéia.
ELE – Não acredito que está fazendo isso novamente!
ELA – Isso o que?
ELE – Contrariando só pra me provocar... Foi por isso que fui embora!
ELA – Desculpe, mas fui eu que fui embora. Não deixe que seu ego atrapalhe sua memória.
ELE – Meu ego? Não tenho isso querida, saí da análise porque achava que meu terapeuta não gostava de mim.
ELA – Você saiu porque a SUA terapeuta quase te processou por causa daquela cantada ridícula. Que papelão!
ELE – Que calúnia!
ELA – Podemos ser objetivos?
ELE – Me devolve a caneta!
ELA – Teve uma idéia?
ELE – Não, mas na falta de um cigarro... Segurar a caneta me ajuda a pensar melhor. Fico mais calmo.
ELA – Mas você nunca fumou!
ELE – Mas sempre segurei canetas.
ELA – Toma... Vê se escreve algo!
ELE – Estou pensando, estou pensando...
ELA – Por que não escreve sobre algo que conhece bem? Escreve sobre você!
ELE – Se eu me conhecesse bem, não precisava de terapia.
ELA – Bom... Então...
ELE – Já sei!
ELA (ANIMADA)– O que, o que?
ELE – Posso escrever sobre você!
ELA (ENGOLINDO O SORRISO) – Nem pensar!
ELE – Você falou pra escrever sobre algo que conheço bem, então... Você!
ELA – Lembra por que nos separamos?
ELE – Isso é relevante?
ELA – Se nos separamos... Deve ter, né?
ELE – Por que não diz logo que não quer que eu escreva sobre você?
ELA – Eu disse!
ELE – Sério? Quando?
ELA – Olha... Quer saber... Vou embora...
ELE – Não! Espera...
ELA – Vai pedir desculpas?
ELE – Ãh... Não...
ELA – Então tchau!
ELE – Espera...
ELA – O que? Não ouvi...
ELE – Tá... Desculpa! Satisfeita?
ELA – Não... Mas fico. Quero ganhar esse festival.
ELE – E por que acha que vai ganhar?
ELA – Por que sou boa no que faço.
ELE – Ei! E eu? Não me acha bom? Depois vem falar do meu ego! Se ganhar será por causa do meu texto... Já pensou nessa possibilidade?
ELA – Se conseguisse escrever algo, talvez, mas... Só vejo folhas em branco.
ELE – Se você parasse de falar talvez eu conseguisse pensar em algo!
ELA – Quer dizer que eu falo demais? Eu vim aqui te ajudar! Chega... Vou embora!
ELE – Espera! Olha... Já sei que é uma boa atriz, então não precisa ser dramática. Vamos trabalhar!
ELA – Palavrinha mágica!
ELE – Como é?
ELA – Palavrinha mágica!
ELE – Mas de novo?! E não me trate como criança!
ELA – É isso ou vou embora!
ELE - ... Desculpa.
ELA – O que? Não ouvi!
ELE – Desculpa!!!
ELA – Tá bom... Aceito.
ELE – Ótimo! Vamos trabalhar?
ELA – Podemos pedir uma pizza?
ELE – Mas não estava de regime?
ELA – Está... Me chamando de gorda... Por acaso?
ELE – Não! Claro que não! De onde tirou essa idéia?
ELA – Hummm...
ELE – Ó... Já tô ligando... O que peço pra beber?
ELA – Um guaraná tá bom... Guaraná light. Sabe como é, não é bom abusar.
ELE – Claro, claro... Ninguém atende...
ELA – Nossa! Cadê o papel? Me dá...
ELE – Toma... Tá aqui. O que foi? Me conta!
ELA – Espera... Não me atrapalha!
ELE – Não vou... Vou ficar quietinho aqui... Pode escrever...
ELA – Shhhhh!!
ELE – Opa...
ELA – Já termino... Tá quas... Terminei. Pronto! O que estava falando mesmo?
ELE – Me mostra!
ELA – O que?
ELE (APONTANDO PARA O PAPEL) – Sua idéia!
ELA – Mas isso não é uma idéia, é uma receita.
ELE – Receita? Você enlouqueceu?
ELA – Não é isso... É que eu ouvi hoje de manhã na tv, e não tinha como anotar, aí ela me veio na mente agora... Tinha que anotar ou esquecia pra sempre!
ELE – Receita, né? De que? Posso saber?
ELA – De pizza...
ELE – Que coincidência...
ELA – Podemos escrever sobre um casal que tenta fazer uma pizza.
ELE (SE INSINUANDO) – Um casal?
ELA – Ã... Dois amigos é melhor...
ELE - Tem certeza?
ELA – Tenho, sai!
ELE – Quer saber? Não saio!
ELA – Como?
(ELE AGARRA ELA E DÁ UM BEIJO)
ELE – Vamos pra cama?
ELA – Parece uma boa idéia, mas e a pizza?
ELE – A pizza fica fazendo companhia pro esquete.
ELA – Ahhh... Então... Vamos, né?
ELE – Bom, já conhece o caminho...
ELA – Claro...
(OS DOIS SAEM DE CENA E LOGO VOLTAM)
ELA – Você fez de propósito!
ELE – Ahh... Claro... Broxei só pra irritar você!
ELA – Aposto que foi por causa dessa mania de se masturbar.
ELE – ... Lá vem você criticar meus passatempos!
ELA – Estou mentindo?
ELE – Não, mas... Você tava sempre com dor de cabeça! Eu tinha que praticar ou esquecia como era!
ELA – Agora a culpa é minha?
ELE – Quer saber? Não vou escrever esquete nenhum! Quer ganhar o prêmio de melhor atriz? Se vira! Vai chorar na frente dos organizadores!
ELA – Chorar? Eu vou é lá transar com todos eles!
ELE – Isso! Vai mesmo! E depois escreve sobre isso, porque vai ser engraçado! Vai... pode ir... Tá esperando o que?
ELA – Você sabe o que... Não vai quebrar a tradição, né?
ELE – Tradição?!
ELA – Poxa... Você esqueceu?!
ELE – Esquecer? Claro que não! Todo casal tem uma tradição, né? Sabe que sou um cara tradicional!
ELA – É... Você esqueceu!
ELE – Não meu bem! Só não estou lembrando!
ELA - E justo agora que tive uma idéia genial...
(PAUSA – SE OLHAM - SE ABRAÇAM)
ELA – Vamos trabalhar?
ELE – Estou pronto!
ELA – Escreve aí...
ELE – “... Oi! Vim assim que soube do concurso de esquetes!”
FIM