quarta-feira, 30 de novembro de 2011

FICÇÃO - “O ESQUETE”


ELA CHEGA E ENCONTRA ELE ANDANDO DE UM LADO PARA O OUTRO COM UM MONTE DE PAPÉIS NA MÃO, E UM OUTRO TANTO AMASSADO NO CHÃO


 ELA – Oi! Vim assim que soube do concurso de esquetes! Temos que inscrever algo!

ELE – Calma! Já estou trabalhando nisso!

ELA – Então seja rápido, porque as inscrições acabam amanhã!

ELE – Eu sei, eu sei... Não faz pressão senão não consigo!

ELA – Calma! Vim pra te ajudar!

ELE – Obrigado! Começou bem...

ELA – Deixa eu ver o que já escreveu (PEGA AS FOLHAS DE PAPEL QUE ESTÃO COM ELE)?

ELE – Mas...

ELA – Mas isso tá em branco! Não disse que já estava trabalhando?

ELE – Sim, mas não disse que já tinha escrito algo.

ELA – E esse monte de papel amassado a sua volta? Nada que se aproveite?

ELE – É só papel amassado... Pra dar um clima, sabe?

ELA – O que dá clima não é amassar o papel, mas escrever nele... Me dá essa caneta aqui!

ELE – Toda sua.

ELA – Vamos lá... Vejamos... Hummmm... Ah! Já sei!

ELE – O que, o que???

ELA – Era uma vez...

ELE – Ahh... Não! Para, para!

ELA – O que, o que???

ELE – Isso é pra ser uma esquete, não um conto de fadas! Não dá para começar assim!

ELA – Qual é? Você não escreveu nem uma linha e já tá criticando o que escrevi?

ELE – Não foi uma critica, foi só uma observação... Desculpe, vai... Continua. Qual era sua idéia?

ELA – Não , você tem razão, não era mesmo uma boa idéia.

ELE – Não acredito que está fazendo isso novamente!

ELA – Isso o que?

ELE – Contrariando só pra me provocar... Foi por isso que fui embora!

ELA – Desculpe, mas fui eu que fui embora. Não deixe que seu ego atrapalhe sua memória.

ELE – Meu ego? Não tenho isso querida, saí da análise porque achava que meu terapeuta não gostava de mim.

ELA – Você saiu porque a SUA terapeuta quase te processou por causa daquela cantada ridícula. Que papelão!
ELE – Que calúnia!

ELA – Podemos ser objetivos?

ELE – Me devolve a caneta!

ELA – Teve uma idéia?

ELE – Não, mas na falta de um cigarro... Segurar a caneta me ajuda a pensar melhor. Fico mais calmo.

ELA – Mas você nunca fumou!

ELE – Mas sempre segurei canetas.

ELA – Toma... Vê se escreve algo!

ELE – Estou pensando, estou pensando...

ELA – Por que não escreve sobre algo que conhece bem? Escreve sobre você!

ELE – Se eu me conhecesse bem, não precisava de terapia.

ELA – Bom... Então...

ELE – Já sei!

ELA (ANIMADA)– O que, o que?

ELE – Posso escrever sobre você!

ELA (ENGOLINDO O SORRISO) – Nem pensar!

ELE – Você falou pra escrever sobre algo que conheço bem, então... Você!

ELA – Lembra por que nos separamos?

ELE – Isso é relevante?
ELA – Se nos separamos... Deve ter, né?

ELE – Por que não diz logo que não quer que eu escreva sobre você?

ELA – Eu disse!

ELE – Sério? Quando?

ELA – Olha... Quer saber... Vou embora...

ELE – Não! Espera...

ELA – Vai pedir desculpas?

ELE – Ãh... Não...

ELA – Então tchau!

ELE – Espera...

ELA – O que? Não ouvi...

ELE – Tá... Desculpa! Satisfeita?

ELA – Não... Mas fico. Quero ganhar esse festival.

ELE – E por que acha que vai ganhar?

ELA – Por que sou boa no que faço.

ELE – Ei! E eu? Não me acha bom? Depois vem falar do meu ego! Se ganhar será por causa do meu texto... Já pensou nessa possibilidade?

ELA – Se conseguisse escrever algo, talvez, mas... Só vejo folhas em branco.

ELE – Se você parasse de falar talvez eu conseguisse pensar em algo!

ELA – Quer dizer que eu falo demais? Eu vim aqui te ajudar! Chega... Vou embora!

ELE – Espera! Olha... Já sei que é uma boa atriz, então não precisa ser dramática. Vamos trabalhar!

ELA – Palavrinha mágica!

ELE – Como é?

ELA – Palavrinha mágica!

ELE – Mas de novo?! E não me trate como criança!

ELA – É isso ou vou embora!

ELE - ... Desculpa.

ELA – O que? Não ouvi!

ELE – Desculpa!!!

ELA – Tá bom... Aceito.

ELE – Ótimo! Vamos trabalhar?

ELA – Podemos pedir uma pizza?

ELE – Mas não estava de regime?

ELA – Está... Me chamando de gorda... Por acaso?

ELE – Não! Claro que não! De onde tirou essa idéia?

ELA – Hummm...

ELE – Ó... Já tô ligando... O que peço pra beber?

ELA – Um guaraná tá bom... Guaraná light. Sabe como é, não é bom abusar.

ELE – Claro, claro... Ninguém atende...

ELA – Nossa! Cadê o papel? Me dá...

ELE – Toma... Tá aqui. O que foi? Me conta!

ELA – Espera... Não me atrapalha!

ELE – Não vou... Vou ficar quietinho aqui... Pode escrever...

ELA – Shhhhh!!

ELE – Opa...

ELA – Já termino... Tá quas... Terminei. Pronto! O que estava falando mesmo?

ELE – Me mostra!

ELA – O que?

ELE (APONTANDO PARA O PAPEL) – Sua idéia!

ELA – Mas isso não é uma idéia, é uma receita.

ELE – Receita? Você enlouqueceu?

ELA – Não é isso... É que eu ouvi hoje de manhã na tv, e não tinha como anotar, aí ela me veio na mente agora... Tinha que anotar ou esquecia pra sempre!

ELE – Receita, né? De que? Posso saber?

ELA – De pizza...

ELE – Que coincidência...

ELA – Podemos escrever sobre um casal que tenta fazer uma pizza.

ELE (SE INSINUANDO) – Um casal?

ELA – Ã... Dois amigos é melhor...

ELE -  Tem certeza?

ELA – Tenho, sai!

ELE – Quer saber? Não saio!

ELA – Como?

(ELE AGARRA ELA E DÁ UM BEIJO)

ELE – Vamos pra cama?

ELA – Parece uma boa idéia, mas e a pizza?

ELE – A pizza fica fazendo companhia pro esquete.

ELA – Ahhh... Então... Vamos, né?

ELE – Bom, já conhece o caminho...

ELA – Claro...

(OS DOIS SAEM DE CENA E LOGO VOLTAM)

ELA – Você fez de propósito!

ELE – Ahh... Claro... Broxei só pra irritar você!

ELA – Aposto que foi por causa dessa mania de se masturbar.

ELE – ... Lá vem você criticar meus passatempos!

ELA – Estou mentindo?

ELE – Não, mas... Você tava sempre com dor de cabeça! Eu tinha que praticar ou esquecia como era!

ELA – Agora a culpa é minha?

ELE – Quer saber? Não vou escrever esquete nenhum! Quer ganhar o prêmio de melhor atriz? Se vira! Vai chorar na frente dos organizadores!

ELA – Chorar? Eu vou é lá transar com todos eles!

ELE – Isso! Vai mesmo! E depois escreve sobre isso, porque vai ser engraçado! Vai... pode ir... Tá esperando o que?

ELA – Você sabe o que... Não vai quebrar a tradição, né?

ELE – Tradição?!

ELA – Poxa... Você esqueceu?!

ELE – Esquecer? Claro que não! Todo casal tem uma tradição, né? Sabe que sou um cara tradicional!

ELA – É... Você esqueceu!

ELE – Não meu bem! Só não estou lembrando!

ELA - E justo agora que tive uma idéia genial...

(PAUSA – SE OLHAM - SE ABRAÇAM)

ELA – Vamos trabalhar?

ELE – Estou pronto!

ELA – Escreve aí...

ELE – “... Oi! Vim assim que soube do concurso de esquetes!”

FIM

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